por Alfredo Baeta Garcia
2ª edição anotada
Parte II
COIMBRAS
De Alpiarça, eram três irmãos: o Fernando, da firma Coimbra &
Silva, veio ultimamente a ser meu sócio na Lusitana; o João, que antes foi
chauffeur do Sindicato e depois sócio da firma Andrade & Abano; o mais
novo, o Rogério, foi motorista da Câmara de Luanda.
GUIMBRA
De Matosinhos, tinha uma tasca a confinar com o perímetro florestal das
dunas e viveu sempre pobremente.
CHICO BATISTA
Da Nazaré [4] e mandador da armação do Portela. Também tinha uma canoa
tripulada por quimbares. O Batista dos atunzinhos, como ele chamava ao atum.
JOSÉ DO CARMO TAXA
Da Nazaré, também mandador da armação da Sul Angolana. Era um homem
muito corpulento, mas uma paz de alma que passava por arreliar alguns maridos.
JOSÉ MARIA CODINHA
Também da Nazaré e mandador da armação da Conserveira. A sua mulher, a
D. Felicidade, era um exemplar típico da praia da Nazaré.
IRMÃOS PADEIROS
Era o grupo familiar mais original e unicamente constituído por dois
irmãos, já de meia idade, conhecidos por Irmãos Padeiros, sendo um deles o
Chico. Não tinham casa, apenas uma pequena canoa encalhada a maior parte do
tempo, onde dormiam e cozinhavam na praia. Só iam ao mar pescar à linha quando
lhes faltava o vinho e pouco mais. Não tinham quaisquer parentes nem se
conhecia a sua origem. Lá os deixei ficar em 1954 com a sua “Palheira”, tal
como os encontrei onze anos antes.
JOÃO MALÓ
Algarvio, conserveiro da Conserveira, casado com a D. Virgínia
enlatadeira principal que, quando estava mal disposta, rompia numa cantoria
esganiçada que denunciava o seu estado de espírito. O velho João Maló tinha uma
particularidade que revelava alguma contrariedade, era de fazer desabar para a
nuca a seu chapéu preto e também a de baptizar os contratados que trabalhavam
com ele com os nomes dos brancos com que não simpatizava.
EMELINO ABANO
Comerciante, sócio da firma Andrade & Abano, meu adversário de
renhidas partidas de gamão a maços de cigarros.
ADÉRITO SANCHES
Comerciante e depois industrial de pesca, proprietário de uma das mais
importantes casas comerciais de então. Ultimamente pouco tempo lá permanecia.
PATRÍCIO CORREIA
Chegou a ser o maior industrial de conservas e ganhou muito dinheiro no
período que terminou cerca de um ano ou dois depois da guerra, mas acabou por
falir porque a certa altura convenceu-se que era um homem muito rico e desatou
a fazer asneiras. Acabou em Cabo Verde a tentar repetir a primeira proeza que
começou num barraco do Albérico Sampaio, coberto com bordões e acabou num
grande edifício.
Dr. JOÃO ARAÚJO DE FREITAS
Médico, foi Delegado de Saúde durante vários anos, ficou sem um braço
arranhado por uma leoa velha que andava aos cães junto às salinas do Pinda, de
que sobreveio uma infecção que levou à sua amputação. Foi ele que me tratou de
uma disenteria amibiana que me ia custando a vida. Muitos anos depois, voltei a
vê-lo por duas vezes em Lisboa.
Prof. JOÃO CARDOSO DAS NEVES
Professor Primário, foi quem acabou por matar a leoa, mas antes teve de
fugir para dentro de um canteiro das salinas, com água pelo joelho e foi daí
que a matou. Foi o único homem com quem briguei em Angola, por causa de mexericos
quando da saída do Matos Garcia de sócio da Conserveira.
CARVALHO DAS DUNAS
Guarda-florestal, de que apenas me lembro por ser o pai da Fernanda que
era uma bonita rapariga e chegou a ser caixa na loja da Conserveira.
JOÃO MANITA
Filho de pais com alguma fortuna vendeu, nos fins da década de
quarenta, tudo o que cá possuía e foi para Olhão onde o fizeram presidente do
Olhanense e parece que acabou mal de finanças. Era pai da Maria do Carmo, sobre
a qual exercia grande vigilância para que ninguém a namorasse.
MANUEL MARTINS
Mais conhecido por Manuel do Motor, casado com a D. Adelina que me fez
dezenas de litros de chá de goiaba durante a minha amibiana. Era do Motor por
ser o encarregado da central elevatória da água. Tinham 4 filhos; dois do
casal: Mário e Antoninho; o Augusto Lopes filho da D. Adelina e o Manuel Dodge,
do Manuel do Motor.
JOÃO NUNES CARDOSO
Filho da Escola e antigo despenseiro da Marinha de Guerra. Era o
encarregado da pensão do Chico da Conceição, a única existente naquele já
longínquo ano de 1943, onde me hospedei à chegada. Anos depois consegui
colocá-lo como encarregado de terra da Conserveira, onde ganhava mais do que
eu, que era seu superior hierárquico, por causa das percentagens na produção de
peixe seco, benefícios elevados que o Prof. Martins pouco tempo manteve.
HERMENEGILDO AUGUSTO SILVA
Mais conhecido por Silva Bindes, era sócio da firma Coimbra &
Silva, da e por esse facto também sócio da Lusitana, Lda.
MONTEIRO
Encarregado da estação dos correios, era natural de Matosinhos.
JOÃO VIVEIROS
Empregado de balcão da Sul Angolana, casado com a D. Leontina era, ao
tempo, correspondente local do jornal de Moçamedes, o “Sul de Angola”.
VITAL
Padeiro do Antunes da Cunha e especialista em caldeiradas de cabrito e
copofonia. Por causa desta última especialidade foi “veranear” para a fazenda
do Pinda a fazer de encarregado. Era um dos últimos degredados que para aqui
vieram, já LIVRES há muito tempo. Um outro era o chamado St. Antoninho,
pequenino e falso. O Vital, que o conhecia bem, dizia que tinha de ser seguro à
primeira cacetada.
JERÓNIMO RIBEIRO
Alfaiate que o Tenente-coronel Vitória Pereira, do Lubango, fez
jornalista do "Jornal da Huila".
COELHO
Serralheiro da Sul Angolana, tinha umas filhas muito “precoces”.
DELEGADO MARÍTIMO
[6] 1º Sargento de Manobras, cujo nome não me recordo, a quem pela
primeira vez ouvi chamar Fracção Imprópria ao filho de um industrial que lhe
passou à porta montado num burro.
PADRE LOPES
Veio substituir, salvo erro, o Pe. Zagalo e com quem convivi, mas que
não conheci muito bem. Acabou por se despadrar e casou, no regresso à
Metrópole. Para ter maior liberdade de movimentos, segundo me confidenciou,
nunca entregou ao Bispo da Diocese, para não lhe ficar sujeito, a carta de
excardinação.
PADRE SERRALHEIRO
Que substituiu o anterior, era um padre com outro tipo de modernidade,
sem exageros. Tinha uma personalidade menos complicada que o seu antecessor.
Deixei-o lá e mais tarde soube que faleceu no interior, ainda novo.
ALBERTO FERREIRA MARQUES
Secretário Administrativo, mais conhecido por Pega de Arranque. Era bom
homem e tinha certa dificuldade em começar a falar e daí a alcunha. Fez a ponte
entre dois Administradores e nessa situação mandava organizar bailes no
Recreativo, com comes e bebes à custa da Junta Local, a propósito de qualquer
evento sem importância. Tantos fez que levou a Junta à banca rota e por isso
não acabou a interinidade normal.
HIROÍTO
Empregado de escritório do Antunes da Cunha, era um sósia perfeito do
Imperador do Japão com esse nome.
FERNANDO PENALVA
Fundador, ou coisa parecida, de uma seita religiosa que tinha como
patrono S. Luís de Gonzaga. Tinha relações de muita influência junto da família
do Segismundo Sampaio.
MANUEL AUGUSTO SILVA
“Eu com a minha cara de Cristo Velho”, como ele dizia, era mais
conhecido por Silva Makeiro, nome que lhe veio de ter tido questões ou
problemas com uma parte considerável das pessoas importantes de Moçamedes e de
Porto Alexandre. Foi o intermediário da venda da minha cota na Lusitana, Lda,
ao Chico da Conceição, com que terminou a minha carreira de industrial de
pesca.
FAMÍLIA PEIXE
Apenas conheci duas pessoas desta família, a D. Elvira Peixe e o Chico
Peixe que era mestre de um palhabote de cabotagem.
CARLOS PESSOA
Comerciante e, nas horas vagas, fotógrafo amador com algum mérito.
GOMES
Encarregado dos armazéns locais do Sindicato de Pesca, a quem comprei
uma pistola 6,35 por 500$00, por volta de 1944.
RUSSO
Correspondente do Banco de Angola.
CELESTINO RAMIRES
Guarda-livros do Patrício Correia.
FAMÍLIA PONTES
Poveiros. Ele era um homem já de certa idade que antes tinha estado em
Manaus, casado com uma senhora chamada Ana. O casal só teve filhas e por isso o
nome desapareceu. Eram três: a Cândida, casada com o António Trocado, dos quais
fui comensal antes de terem ido para Moçamedes tomar conta de um hotel [5]; a
Beatriz, nesse tempo já divorciada de um Concha; e a mais nova, a Geninha,
casada com o Justino Pacheco.
Seca de peixe
Imagem: Gente do meu tempo (baú de recordações)
http://princesa-do-namibe.blogspot.pt/
Notas:
[4] Aliás do Algarve. vd. comentário de Óscar Batista – 11/10/08, em
“Comentários à 1ª edição”, abaixo.
[5} Hotel Moçamedes (NR).
[6] vd. comentário de fbpires – 18/08/13, em “Comentários à 1ª edição”,
abaixo.
Comentários à 1ª edição
5 comentários:
27/4/06 5:10 da tarde
Anónimo disse...
O sr. Manuel Augusto Silva, conhecido em Angola por "Silva
Makeiro" Faleceu há cerca de um ano em Freixo de Espada à Cinta depois de
ter sido Presidente da Câmara Municipal durante 2 mandatos. A sua família
continua instalada naquela vila do Douro Superior.
14/7/07 9:12 da tarde
lena leote silva disse...
Sou a filha mais nova do Silva Makeiro, que faleceu a 24 de Novembro de
2004 Obrigada por o recordarem.
14/7/07 9:15 da tarde
lena leote silva disse...
Gostava de saber onde anda a Vanda Eduarda Gonçalves de Carvalho, que
vivia na Rua da Fábrica, em Moçâmedes, frente ao liceu. Nascemos no mesmo dia.
Tinha duas irmãs: a Cita e a Helga.
11/10/08 7:41 da tarde
Óscar Batista disse...
Sou Oscar Batista, filho do Chico Batista.
Venho por este meio pedir uma correcção.
O meu pai era algarvio e não nazareno.
Natural de Odeáxere concelho de Lagos.
18/8/13 12:50 da tarde
fbpires disse...
O meu nome é Fernando Baptista Pires, nasci em Luanda e vivi em Porto
Alexandre desde 1944 a 1951. O meu pai, António João Pires, era 1.º Sargento de
Marinha na altura em que foi Delegado Marítimo. Não sei se é a ele que se
refere mas não sou capaz de identificar ou confirmar a dita frase pois o meu
pai faleceu em 2000 com a idade de 96 anos.
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